segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Porq estudar

Em 2000 fui candidato a prefeito, novo milênio , novos sonhos.

Como já disse anteriormente, sou o primeiro bonitense nascido e criado aqui que volta formado, o Hérico veio antes de mim, mas se criou em Campo Grande. Minha preocupação sempre foi com o desprezo que a cidade tem com a educação, não temos hoje nenhum bonitense fazendo uma universidade publica com certa dificuldade de acesso. Mas, voltando a 2000, descobri uma realidade que muito me assustou, chamei de síndrome da quinta serie, pois em praticamente em todos os lugares em que chegava e tinha um jovem de até 20 anos e eu perguntava: Você estuda? A resposta era não. Parou em que série? - Na quinta - respondiam eles.

Passados dez anos, continuo preocupado com rumo tomado pela nossa cidade, vejo que o estudar não tem valor para a atual administração e nem nunca teve. Como a comunidade poderia ter se não tem exemplo a ser seguido? Observando e tentando entender, acredito ter chegado a uma triste conclusão, olhando nossa cidade, e tendo por base, principalmente, os empresários de turismo e os salários pagos aos trabalhadores. Não vejo um motivador para o estudo. Sem bons salários e oportunidade de crescimento, qual o motivo do excluído se dedicar ao estudo? Tivemos uma faculdade que fechou. Nela havia dois cursos interessantes para a cidade, mas não houve procura pelos nossos jovens. Temos agora uma universidade publica, com os mesmos dois cursos, Turismo e Administração, novamente há desmotivação por parte dos jovens e falta de engajamento do poder publico municipal e da comunidade, que não consegue enxergar a importância da vinda desta Universidade para nossa cidade.

Imagino que eles estão fazendo sempre a mesma pergunta: Vale a pena estudar? Estudar para, depois de vários anos perdidos em uma escola, ganhar o mesmo salário que meus pais, que não estudaram, estão ganhando? Como esperar mudanças em uma sociedade onde o ser humano não tem nenhum valor, não é visto e nem respeitado? Uma cidade formada por guetos de pseudos importantes que não se inserem na comunidade por acharem que este povo não serve nem pra trabalhar e estudar e nunca vão ser nada?

Estava conversando com um funcionário que está terminando o ensino médio, e ele me disse que não fez vestibular ou Enem. Quando perguntei o por que ele disse que foi por total falta de informação, pois ninguém comentou com ele, sobre a importância de termos em Bonito uma universidade pública, gratuita, e como seria importante a participação destes jovens inseridos nesta universidade.

O que é normal para você que teve um berço diferente? Isto é, sua família, seus pais e os pais de seus amigos sempre priorizaram a educação. Para esta comunidade as margens das informações deste novo Brasil, a educação não é prioridade. Se nós, que fomos abençoados em nascermos nessas famílias, em que a evolução é a meta do ser humano, não fizermos nada, mudança nenhuma acontecerá.

Ninguém ama ninguém

Há algumas décadas em uma grande jogada de inteligência alguém criou um tema que correu o mundo e fez sucesso em todos os países onde foi lançada. A idéia era simples e muito forte, a frase era: “Amar é...”

Nós realmente amamos? O que nós amamos? Quem nós amamos? Qual o real significado do amor? Nós sabemos amar?

Amar é eternamente ceder. Este é o meu olhar para o amor. Você cede, se sacrifica, ama?

Como é a sua relação com sua esposa, esposo, filhos, pais, irmãos, vizinhos, com a sociedade em que vive sua liberdade? Seu direito e respeito vai até onde começa a dos outros. Este limite existe para vocês?

Olha o meio em que vive como se fosse mais importante que sua existência ou você é mais importante?

O que é mais importante para a continuidade da vida, você ou o meio em que vive?

Neste curto tempo da existência do homem, meia dúzia de pessoas sabiam o significado do amor, tanto que hoje são amados e reverenciados por milhões de pessoas que tentam seguir suas palavras, mas não compreendem seus significados. Um total desprendimento das futilidades existenciais. Estes, enquanto existir o homem, estarão vivos. Por quanto tempo depois da partida seremos lembrados, até nossos netos? Que importância temos na vida?

Nada! Não aprendemos AMAR.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A sucessão e o sem terra - “a hora de sair de cena”

Sempre digo às pessoas, que não conhecem a minha origem, que já fomos sem terra; morando em barraco de bacuri nos fundos da fazenda de um parente de meu pai, tendo cedido um pedaço de terra para que ele plantasse mandioca e criasse porcos, tirando deste trabalho o sustento da família, pois ele tinha que cuidar de quatro barrigudinhos e estava sem trabalho. Um dia falarei sobre controle de natalidade. Não esqueço desta fase da minha vida, por ter sido boa e também pelas lombrigas e de um remédio chamado abrol. Passados quase cinqüenta anos, estamos aqui em outra situação bastante privilegiada, hoje sou “Dotor Advogado”. Todos da minha casa fizeram um curso superior, graças à visão e ao trabalho daquele casal de sem terras. Mas para que tudo mudasse, além da força de vontade de meus pais, é preciso ter oportunidades e apoio de pessoas que ajudem a realizar sonhos.

Nestes muitos anos de reforma agrária, escuto vários comentários a respeito dos assentamentos, assentados, sem terras e acampamentos em beira de rodovia, sempre de forma pejorativa e desprezo. Muito raro ouvir um comentário decente sobre eles. Sou um estudioso, não de livros, mas de pessoas, sou um observador do dia a dia, meu pouco conhecimento é empírico, nada cientifico, contrariando a opinião geral, ouço muito e observo bastante.

Nós que tivemos a sorte de ser bem nascidos, não nascer com dinheiro, mas sim com pais preocupados com a educação e nosso futuro, que lutaram muito para evoluir e nos proporcionaram uma boa criação. Comecei a escrever este texto, por que muito me incomoda a maneira como os assentados e os assentamentos são julgados por seres humanos que dificilmente conseguirão ter o dom divino de “ser humano”. É muito fácil julgar e atirar pedras. Como já disse, sou um observador, principalmente do comportamento do mundo em que vivo, isto é, Bonito e adjacências.

Estudando o material disponível chego as minhas conclusões, “as besteiras do Tó”, como dizem alguns, não, muitos.

Em todos estes anos observando uma das grandes verdades da vida, a sucessão, vejo que todos aqueles que têm um bom patrimônio, empresários urbanos e rurais, são fieis seguidores de nossa amiga Elisabeth da Inglaterra, só vão sair de cena com a chegada da morte. Vejo filhos bem criados, boas escolas, sempre juntos com os pais em suas atividades, acompanhando, vivenciando, sempre juntos aos negócios da família, mas, quando formados, ou aqueles que não concluíram seus estudos, retornam para juntos dos seus pais, para começarem a trabalhar. Raramente recebem dos pais autonomia para administrar algum negócio da família, permanecendo os pais juntos aos filhos, monitorando o trabalho e o aprendizado dos mesmos. Passam os anos e eles ainda não estão suficientemente preparados para assumir a completa administração dos bens da família. Raramente o pai sai de cena para que o filho entre, o pensamento sempre é o mesmo, “se ele fizer uma cagada não tenho idade para recomeçar”.

Aí vem o poder publico, pega os acampados, originários de famílias pobres que nunca tiveram acesso as benesses da vida, as oportunidades dos bens nascidos, entregam a eles um pedaço de terra, um financiamento, uma assistência técnica bem brasileira - aquela que empurra com a barriga - Raramente conseguem entender o porque do ser humano. Jogam todos num balde e os tratam igualmente, não individualizam família a família, não estudam caso a caso. Como fazer isto se não tem material humano para o trabalho? Pegam pessoas que nunca tiveram nada, a não ser sonhos, criando em suas cabeças expectativas que nunca serão cumpridas. Normalmente para estas pessoas o pedaço de terra é a sua última chance de realmente ser um ser humano, assim como os bem nascidos, monitorados pelos pais, todos encontram uma muralha intransponível. Porque crucificar o pobre, se os bens nascidos não acreditam em suas crias?