sábado, 30 de abril de 2011

Modismo – Valores

Hoje descobri como perdemos boa parte de nosso passado, araras pousaram no pé de manga da dona Fany, alguém conhece? - Viúva do Nito Farias. Lembrei do tempo de criança quando o Beto e Tadeu da tia Tuca tinham uma arara de estimação e ela os chamava o dia todo, o nome dela era Pancho.

Durante os primeiros vinte anos de minha existência observei que praticamente todas as residências da cidade tinham plantado em seus quintais parreiras, fruta do conde e paraíso (cinamomo), sendo este último quem atraía as araras e os papagaios, em minha casa tinha dois. Esta semana o Antero comentou de umas ararinhas que vinham muito e nós sempre as caçávamos. Há muitos anos que elas não vêm, não somos nós os culpados. Da natureza, só nos sobrou à baderna das aranquans que hoje invadem a cidade, da vontade de voltar a usar a funda e a espingarda de pressão, cinco horas da manhã. _ Ninguém merece!

É muito raro encontrar uma dessas plantas em qualquer residência da cidade, com as mudanças, as transformações que a comunidade passou e a perda de identidade. Elas desapareceram e junto com as mangueiras que estão seguindo o mesmo caminho, para o novo pensamento estas coisas não tem valor.

Como uma cidade turística de tal nome perdeu seu passado para o modismo e novos valores?

Para onde estamos caminhando?

Como tenho saudades do meu passado que foi muito importante. Perdemos tanto a identidade que até a ave oficial do município é um pássaro desconhecido para os da terra, como a nossa comida típica oficial “o jacaré”, nada tem a ver conosco, pelo contrario, incentiva a caça e comercialização ilegal. Nosso fornecedor oficial às vezes não tem o produto. Onde os comerciantes se abastecem?

Sempre aparece alguém oferecendo carne de caça, eu não compro, mas com certeza alguns restaurantes estão comprando, senão não teria a oferta. Quem criou esta situação?

Pessoas sem comprometimento com a tradição, a história e com os moradores de Bonito.

Esteve em Bonito um cientista Alemão fazendo uma pesquisa de Pós Doutorado e me perguntou por que sou uma pessoa triste e respondi que não vou conseguir ver Bonito tendo o respeito que merece e o cidadão valorizado.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Maioridade


Hoje meu casamento completa 21 anos, segundo nosso Código Civil, com 21anos se adquire a maioridade e agora já posso sair de casa. Sou um casado liberado assim diz a Lei, estou livre, mas muito preocupado. O que vou fazer da vida?

Reencontrar velhos amigos, freqüentar o Taboa, o Etílico fechou, diminui as opções... Ir à Marta! Adquiri direito e sou livre, mas também o liberado tem responsabilidades, compromissos e estou com medo desta porta que se abriu. A estrada é sinuosa, não existem pontes, só mata-burros.

Sou livre, mas muito preocupado com o que vai acontecer, tenho cinqüenta e tantos anos, velho, pobre, feio, não sou ator, músico, nem professor universitário. Que moça bonita se encantaria comigo?

É assustador, tenho casa, comida, roupa lavada e passada, uma mulher que me agüentou todos estes anos. Não é mais aquela mocinha bonita, mais continua bonita e ainda acreditem, diz que me ama. Como é possível?

Fico pensando, a liberdade, emancipação, um mundo aberto a te esperar. Volto algumas décadas atrás quando me formei e tinha o mundo a conquistar e voltei pra casa de meus pais, a segurança conhecida e garantida, só saí depois de casado. Pensando bem, não vou sair de casa, fico com o certo, não vou atrás do duvidoso, apesar da oportunidade.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Caça aos terroristas


Final dos anos sessenta, país inteiro caçando terrorista, eis que em Bonito, terra de homens valentes como todo povo do interior, também comungando o pensamento anticomunismo, emanados de Brasília, um jipe com quatro homens mal encarados, com o clássico perfil de foragido, barba por fazer e sujos. Passearam pela cidade fazendo perguntas assustadoras.

Onde é o banco?

Quantas agências têm?

Tem correio?

Se o comércio é forte.

Qual a maior loja?

Tem policiais?

Etc...

Neste dia crucial para a sobrevivência da cidade, os inimigos esqueceram suas desavenças e para um bem maior se juntaram para combater os terroristas, pois era obrigação destes bravos munícipes prenderem os bandidos e ajudar a salvar além da cidade a pátria mãe ameaçada. Juntam-se os heróis e partem a caça dos marginais.

Noite inesquecível pra mim, passamos acordados no escuro, com a casa toda fechada, juntamente com os filhos e esposas dos bravos justiceiros. O tempo todo se rezava e chorava preocupadas com a segurança de seus esposos; nós, crianças quase apanhavam, levamos muitos beliscões, pois queríamos sair na rua. Não foi fácil ficar em casa esperando o pai voltar do combate. Passei por essa experiência que durou uma noite, mas, existiu.

Como todos eles eram exímios caçadores não foi difícil seguir os rastros da caça. Encontrá-la, fazer o cerco e dar o bote. O campo de batalha foi à porteira de entrada da casa do saudoso Jairo Fontoura, “pai da Andréia do Taboa”, onde hoje é o hotel do Afonsinho. A batalha mais rápida e limpa da história de Bonito, nenhum tiro precisou ser disparado, nenhuma baixa, imaginem, nenhuma gota de sangue, os inimigos estavam... Dormindo!

Pegaram os meliantes, amarram usando o jipe dos prisioneiros e mais o do Adão Lima, fizeram o que todo bom patriota teria a obrigação de fazer. Foram entregá-los ao exército na cidade de Jardim, na época a CER3, administrada por militares. Eis que os bravos brasileiros chegam ao QG da CER e entregam os prisioneiros e recebem a informação bombástica, os prisioneiros eram militares disfarçados também caçando terroristas.

“Não posso dar nomes aos heróis, pois não consigo lembrar todos, seria antiético com os bravos lutadores da legalidade da época”.