sábado, 16 de julho de 2011

Tenho Inveja

Hoje meu último filho está indo embora de casa, vai estudar fora. Sempre disse aos turistas que diziam que maravilha morar em Bonito, que bom é morar em um local em que os filhos se formam dentro de casa, cumprem seus ciclos escolares morando contigo, que inveja.
Todos foram embora. Cada partida, cada primeira vez, é uma dor, não no coração, mas sim na alma. Sinto-me frustrado, impotente, incompetente, quanta coisa perdi em todos estes anos morando conosco? Quanto tempo perdi de suas companhias? Nasceram, cresceram e foram embora. E eu, o que fiz em todos estes anos? Trabalhei dia e noite! Fomos poucas vezes ao Balneário, tiramos uma férias, nestes anos não conseguimos fazer o circuito Bonito de turismo de natureza. Tempo passado, tempo perdido. Praticamente todos esses anos estivemos juntos, morando em cima do trabalho, conviver sem viver. Tive oportunidades de escolher o caminho a percorrer, vários, escolhi o que sempre foi o melhor pra mim; mas o pior para minha família, hoje sou um profissional realizado, faço o que amo, mas não me realizei como pai e marido. Não estou e não estive com meus filhos como gostaria, e não estou com minha esposa quando mais precisa de mim. Não conheço seus médicos, nunca estive ao seu lado nestes momentos.

Tenho inveja de meu pai, durante todos os anos que passamos aqui, antes de sairmos para estudar, ele esteve sempre presente, não nos ensinou a jogar futebol e nem a andar de bicicleta, ele odiava, mas caçamos e pescamos juntos durante todos estes anos, sempre foi o grande companheiro, praticamente toda a década de 60 minha mãe passou doente, sempre tinha que ir a Campo Grande, ele sempre estava presente.

Hoje fico imaginando como era sua vida, a maneira que superava as dificuldades.
Tenho inveja e saudades do meu herói.
*Ele cursou até o 3º ano primário, não era doutor como eu.