Esta
semana, vendo no face alguns comentários pedindo a volta do governo militar e
os posts, sem fundamentos, compartilhados por desavisados, que não têm noção da
importância da liberdade, lembrei de uma passagem vivida por mim em plena perseguição
aos inimigos comunistas.
Morávamos
na casa Monteiro, onde hoje é Alegra e Armazém do João, meu pai era o
funcionário que cuidava da loja e da bomba de gasolina, a única da cidade. Estávamos
dentro da loja, logo após o golpe militar quando de repente aparece um monte de
periquitos armados de fuzil. Estavam na sagrada missão de prender os
famigerados Comunistas Bonitenses. Já haviam prendido toda a cúpula dos revolucionários
vermelhos, os “comedores de criancinhas”. Por favor não confundam com pedofilia!
Estavam todos nos caminhões, amarrados e guardados por 2.500 canhões.
Agora,
por favor fiquem sentados.
Nosso
amigo Boca, lá pelos seus doze anos, fazia parte do S.B.I (Serviço Bonitense de
Informação). Pegou emprestado o celular do Liel Jacques e ligou para Brasília
para fazer a denúncia, colocando Bonito do mapa dos abusos dos Direitos
Humanos.
Depois
de cinquenta e quatro anos da prisão dos revolucionários comunistas,
alcaguetados pelo já famoso eleitor do Trump e do Le Pan, nosso amigo Boca, que
por sua vez é filho do alcaide Zezinho, que também era comunista.
Este
é o motivo do Boca ser traumatizado até hoje!
Deixa,
nós já o perdoamos! Nós comunistas.
Estando
eu com sete anos de idade, como todo ser humano, também nasci curioso, fui ver
de perto (pois sabia que um dia alguém teria que contar esta história) quem
eram os comunistas. Nem sabia o significado desta palavra. Acredito que nem os
presos sabiam. Vi o rosto de todos, mas o tempo apaga algumas imagens da
memória, esqueci o nome de dois. Como sou amigo do filho de um deles, sendo
este mais novo que eu, ainda um guri, tive a felicidade de encontrá-lo na
lotérica. Estávamos na fila dos jovens. Graças a este encontro consegui os
nomes que faltavam e ainda mais subsídios para escrever estas memórias. O guri
é o nosso Luiz Trelha Falcão.
Agora
vamos aos nomes dos vermelhos:
Comunista
01 - Osterno Prado de Souza, codinome de guerra Taika, único sobrevivente.
Se
cuida Boca, o homem está solto e mais perigoso!
Comunista
02 - Amantino Costa Leite.
Sirlei
acredito que esta você não sabia!
Comunista
03 - Lapa Neto, Agente dos Correios.
Desaparecido,
no tempo.
Comunista
04 - Codô, pai do nosso amigo Luiz, comerciante, não estava em casa quando
procurado. Tinha ido na fazenda do Quintino Soares, hoje Fazenda Trevo, levar
algumas mercadorias. Não tiveram dúvidas, levaram o vermelhinho Luiz, com seus
dezessete anos como refém, para trocar pelo perigoso Codô. Provavelmente o
chefe da Célula Vermelha!
Entre
o balneário e a cidade o encontraram. Vinha ele no seu Corcel Branco. “Pelo
menos nos filmes é um cavalo branco a montaria do mocinho”. Esquece os filmes
vamos a história! Cercado pelo nosso glorioso exército, Codô se entregou e foi
feita a troca, Luis assumiu a rédea do cavalo e seu pai preso.
O
velho comunista preso, o comunistinha volta pra cidade livre cavalgando seu
corcel.
Diz
a lenda que ele fez o percurso do morro da santa até a cidade em três minutos,
não posso afirmar nada só tinha sete anos.
Depois
da limpeza comunista na cidade o comboio segue para Jardim, entregar os
prisioneiros na CER 3. Uma base de Engenharia do Exército. Acredito que já
existia antes do, para mim, golpe e para o meu amigo Boca a grande revolução. Acredito
eu estar certo, te cuida que o Taíka ainda te pega!
Chegando
a prisão, com os comunistas bonitenses, nunca esqueçamos, homens perigosos à
segurança da pátria, um dos nossos rapazes se depara com uma figura muito
conhecida e respeitada em toda a região. Um grande comunista Jardinense,
tristemente agarrado as grades da cela e com muito medo, pois ninguém sabia o
que estava acontecendo, o querido e amado Dr. Reinaldo. Quando o nosso
desligado comunista Bonitense fala para ele “E aí camarada como está?” Nosso
querido médico já desesperado grita: “Camarada teu c.. seu filho da p...”. Gritando
mais uma dúzia de palavrões em português e guarani.
Após
o interrogatório, sem pau-de-arara ou choques, foram liberados pois eram
pessoas comuns e nada tinham de comunistas.
Aos
sem noção que vivem dizendo, passei o regime militar e não sofri nada, só tenho
a dizer:
Vão
deitar lombos sujos!
Obrigado
Luiz, temos que conversar mais!
O
Boca não é dedo duro, o cérebro é, não podia deixar ele em paz!
A
Nizete, uma das mulheres da minha vida, é filha do Codô!