Vou começar com uma pessoa de que poucos ouviram falar ou conheceram, mais muito importante para o Bonito de hoje e de ontem, pela visão futurista e humanitária deste personagem.
Quando eu era criança, na década de sessenta andava por Bonito um personagem diferente, exótico, um senhor de cabelos brancos, de poucas ou nenhuma palavra, perguntando aos meus pais, descobri ser o dono de uma imensa fazenda na Serra da Bodoquena, chamada "Villa Quartezana", este simpático personagem era um engenheiro italiano. Quando morava em seu país fez o primeiro projeto de reforma agrária na Itália pós guerra, logo em seguida mudou-se para o Brasil, tendo conhecido Bonito na década de 50. Não fugindo a regra apaixonou-se, tendo logo em seguida comprado sua propriedade dos sonhos, tendo feito amizade com tradicional comerciante de Bonito, deixando sua propriedade aos cuidados dele. Este amigo chamava-se João Baptista Flores, filho de tradicional família bonitense, tendo montado a primeira oficina mecânica de Bonito e posteriormente a primeira auto peças do município.
O mais interessante da história do italiano é que não comprou a fazenda para exploração agropecuária e sim por ter se apaixonado pela região e pretendia preservá-la. Houve algumas tentativas de invasões, pois achavam que a área estava abandonada, mas nenhuma com sucesso.
A grande dificuldade de manter a área intacta veio de onde menos se esperava, a "burrice eterna" da burocracia nacional na década de 80, começou a grande cruzada burra da desapropriação das terras improdutivas para reforma agrária, sem fundamentação lógica de terra produtiva ou terra permanentemente área de preservação que era o caso da Serra da Bodoquena.
Com a ameaça de desapropriação, Dr. Enzo partiu para um projeto de exploração florestal, coisa que nunca quiz.
Contratou um engenheiro florestal e fez um dos primeiros projetos de manejo florestal conhecido no Estado. Buscou na época, trabalhar tal qual o sistema filandêz, a idéia era dividir a propriedade em mais ou menos vinte áreas de 500 hectares e explorar madeira acima de trinta centímetros de tronco, para quando vinte e poucos anos depois, voltasse ao primeiro lote, as árvores já estariam grandes e nunca esgotaria o potencial florestal.
Mas independente do projeto, estando aqui em Bonito, nos anos de 84 e 85, sua esposa e filha, Dna Maria e Hérica, ficaram preocupadas com o desenrolar da história, também comungavam a idéia de preservação de toda a área.
Eram elas minhas clientes aqui no restaurante, sempre conversávamos da preocupação que o Dr. Enzo tinha com a distruição da floresta, quando perguntei a elas se topariam transformar as fazendas em Parque Nacional, prontamente elas aceitaram a idéia, por coincidência naqueles dias estavam no município uma equipe do antigo IBDF, com eles uma moça muito simpática, comentei a história da família, o perigo da desapropriação para reforma agrária e que topavam transformar as propriedades em área de Parque Nacional. Pedi uma luz, como poderíamos solucionar este caso, salvando a propriedade do provável assentamento.
Como na época eu era vereador, disse-me ela que se eu entrasse com uma indicação na Câmara pedindo ao IBDF a transformação desta área em Parque Nacional e a Câmara aceitasse o pedido, sendo também homologado pelo prefeito, com certeza a idéia de desapropriação seria paralizado pois, o órgão se interessaria pelo parque e iria contra o futuro assentamento na serra, sendo que, as fazendas Harmonia, Campo Verde também na época o desmatamento para formação de pastagem e exploração de madeira. Fizemos toda a papelada (documentação), mandamos pra Brasília e acredito que a idéia tenha dado certo.
A exploração madereira não foi o esperado pela família, logo venderam a propriedade para um pessoal do Paraná, da qual foi bastante explorada, perdendo quase que a totalidade de sua riqueza florestal, como boa parte das propriedades da Serra.
Passaram-se os anos e o sonho do engenheiro italiano tornou-se realidade, pelo menos para ele, pois o Parque Nacional da Serra da Bodoquena tornou-se em parte realidade pois a coincidência do destino, uma das poucass áreas desapropriadas e "paga" é justamente o local onde se encontra a sede do Parque é a fazenda do visionário Enzo Camajoly.
Lembrei de escrever esta pequena história, dentro da grande história de Bonito, pois recebi em minha casa a poucos dias a filha deste senhor "amante da vida". Hérica, depois de muitos anos veio visitar Bonito, rever os amigos e lembrar de uma passado importante para ela e pra Bonito.
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