domingo, 30 de maio de 2010

Enzo Camajoly um visionário a frente de seu tempo


Amigos sempre me cobram que tenho que escrever e sempre fico esperando o dia certo, pois acreditam eles, que tenho bastante assunto pra por no papel. Hoje resolvi começar, pois descobri que todos nós temos histórias pra contar e temos obrigação para com alguns personagens da nossa vida e da comunidade em que vivemos.
Vou começar com uma pessoa de que poucos ouviram falar ou conheceram, mais muito importante para o Bonito de hoje e de ontem, pela visão futurista e humanitária deste personagem.
Quando eu era criança, na década de sessenta andava por Bonito um personagem diferente, exótico, um senhor de cabelos brancos, de poucas ou nenhuma palavra, perguntando aos meus pais, descobri ser o dono de uma imensa fazenda na Serra da Bodoquena, chamada "Villa Quartezana", este simpático personagem era um engenheiro italiano. Quando morava em seu país fez o primeiro projeto de reforma agrária na Itália pós guerra, logo em seguida mudou-se para o Brasil, tendo conhecido Bonito na década de 50. Não fugindo a regra apaixonou-se, tendo logo em seguida comprado sua propriedade dos sonhos, tendo feito amizade com tradicional comerciante de Bonito, deixando sua propriedade aos cuidados dele. Este amigo chamava-se João Baptista Flores, filho de tradicional família bonitense, tendo montado a primeira oficina mecânica de Bonito e posteriormente a primeira auto peças do município.
O mais interessante da história do italiano é que não comprou a fazenda para exploração agropecuária e sim por ter se apaixonado pela região e pretendia preservá-la. Houve algumas tentativas de invasões, pois achavam que a área estava abandonada, mas nenhuma com sucesso.
A grande dificuldade de manter a área intacta veio de onde menos se esperava, a "burrice eterna" da burocracia nacional na década de 80, começou a grande cruzada burra da desapropriação das terras improdutivas para reforma agrária, sem fundamentação lógica de terra produtiva ou terra permanentemente área de preservação que era o caso da Serra da Bodoquena.
Com a ameaça de desapropriação, Dr. Enzo partiu para um projeto de exploração florestal, coisa que nunca quiz.
Contratou um engenheiro florestal e fez um dos primeiros projetos de manejo florestal conhecido no Estado. Buscou na época, trabalhar tal qual o sistema filandêz, a idéia era dividir a propriedade em mais ou menos vinte áreas de 500 hectares e explorar madeira acima de trinta centímetros de tronco, para quando vinte e poucos anos depois, voltasse ao primeiro lote, as árvores já estariam grandes e nunca esgotaria o potencial florestal.
Mas independente do projeto, estando aqui em Bonito, nos anos de 84 e 85, sua esposa e filha, Dna Maria e Hérica, ficaram preocupadas com o desenrolar da história, também comungavam a idéia de preservação de toda a área.
Eram elas minhas clientes aqui no restaurante, sempre conversávamos da preocupação que o Dr. Enzo tinha com a distruição da floresta, quando perguntei a elas se topariam transformar as fazendas em Parque Nacional, prontamente elas aceitaram a idéia, por coincidência naqueles dias estavam no município uma equipe do antigo IBDF, com eles uma moça muito simpática, comentei a história da família, o perigo da desapropriação para reforma agrária e que topavam transformar as propriedades em área de Parque Nacional. Pedi uma luz, como poderíamos solucionar este caso, salvando a propriedade do provável assentamento.
Como na época eu era vereador, disse-me ela que se eu entrasse com uma indicação na Câmara pedindo ao IBDF a transformação desta área em Parque Nacional e a Câmara aceitasse o pedido, sendo também homologado pelo prefeito, com certeza a idéia de desapropriação seria paralizado pois, o órgão se interessaria pelo parque e iria contra o futuro assentamento na serra, sendo que, as fazendas Harmonia, Campo Verde também na época o desmatamento para formação de pastagem e exploração de madeira. Fizemos toda a papelada (documentação), mandamos pra Brasília e acredito que a idéia tenha dado certo.
A exploração madereira não foi o esperado pela família, logo venderam a propriedade para um pessoal do Paraná, da qual foi bastante explorada, perdendo quase que a totalidade de sua riqueza florestal, como boa parte das propriedades da Serra.
Passaram-se os anos e o sonho do engenheiro italiano tornou-se realidade, pelo menos para ele, pois o Parque Nacional da Serra da Bodoquena tornou-se em parte realidade pois a coincidência do destino, uma das poucass áreas desapropriadas e "paga" é justamente o local onde se encontra a sede do Parque é a fazenda do visionário Enzo Camajoly.
Lembrei de escrever esta pequena história, dentro da grande história de Bonito, pois recebi em minha casa a poucos dias a filha deste senhor "amante da vida". Hérica, depois de muitos anos veio visitar Bonito, rever os amigos e lembrar de uma passado importante para ela e pra Bonito.


quinta-feira, 27 de maio de 2010

"Como ter competentes se não sou!"



Muito tenho ouvido nestes últimos anos, referências a preguiça, má vontade, vagabundagem, dificuldade de aprender, enfim, a incapacidade do bonitense de aprender ou trabalhar nesta grande maravilha que é o turismo.
Unanimidade entre os nossos grandes e capacitados empresários de turismo. Pessoas estas, com grande qualificação em gerenciamento. Dotadas de grande visão da grandeza e da importância do turismo na concepção "deles", e não da vida real "onde eles vivem".
Se procurar um nativo em um cargo de certa importância na administração do turismo, sendo público ou privado é difícil encontrar, praticamente todos estão ocupados por pessoas vindas de fora.
Por que será que está acontecendo isto?
Você já parou pra se perguntar?
Mais, tem importância?
Qual a importância do turismo para os nativos?
Qual a participação deles no traide?
Praticamente todos os empresários envolvidos no turismo, vieram para o novo eldorado sem saber o que estavam fazendo. Abriram hotéis sem conhecer hotelaria, agência sem saber como funcinam, restaurantes sem saber fritar um ovo, lojas sem saberem o que é um suvenir.
Quando você abriu sua empresa, sabia ensinar seu funcionário?
Como pegar um nativo e qualificá-lo, se o dono não sabia o que estava fazendo, não tinha conhecimento do que se propos à fazer, tinha que achar uma mão de obra pronta, usando um termo da construção civil, começou a importar o peão"meia colher".
Começaram a discriminar a mão de obra local, pois a mesma não tinha qualificação, começou a sobrar pra ela, somente o serviço básico e rudimentar.
O tempo foi passando e hoje acredito que nos cargos que requerem uma qualificação básica, a maior parte está ocupada por pessoas vindas de outras cidades.
Ham! Qualificação básica? - Tá louco! - Não sabe o que está falando!
Qualificação quer dizer ética, respeito, amor, compromisso total com seu cliente, trabalhar por ele e pra ele; e não é o que normalmente acontece. Trabalhar pensando em si e no lucro imediato, passando por cima de todos os princípios existentes.
O que mais se escuta dentre os empresários de turismo é que o povo daqui não quer nada com nada, mas voces já se perguntaram como eles foram tratados e são até hoje? O que sobrou ? Apenas o onus de dividir sua cidade, seu balneário, as verbas da saúde e da educação que são insuficientes.
Perdendo o respeito ao seu passado, a sua identidade, sua história e sua cultura, nada é respeitado.
Alguém sabe qual a diferença entre a agricultura, a pecuária e o turismo pra o bonitense?
"Nenhuma!" já viveram e vivem os três ciclos e nada mudou. Emprego básico, salário base da categoria, emppresas ganhando muito e funcionários ganhando pouco.
Agora, vocês já pararam para pensar que nós temos um povo ordeiro, honesto e compreensivo?
Para vocês isso tem valor?
Temos pousadas, hotéis em todos os locais da cidade, o nosso turismo passeia durante a noite, vindo de todos estes empreendimentos sem serem molestados. Nunca houve um assalto, um assédio sequer.
Nossa tranquilidade, a segurança e paz advém de termos uma comunidade decente e inocente, nos grande centros valeriam ouro. E aqui?
Já notaram que nosso povo é descente e inocente e que nos grandes centros valeriam uma fortuna e aqui não vale nada?
Está na hora de acordar e rever valores e conceitos, menos valores financeiros e preconceitos. Vamos valorizar este celeiro de pessoas com grande potencial.
Sempre se discute a qualificação a profissionalização da cidade, como se o funcionário fosse o culpado.
Enquanto não qualificar e profissionalizar "o dono", não se consegue mudanças. A cidade começou errada, precisamos voltar ao útero e repensar tudo novamente.
A.C. Silveira Soares