Agora, 22 de novembro faço 54 anos. Após meio século de vida descobri a importância de ter nascido feio. Todos os dias me vejo no espelho, sempre a mesma feição, pouca coisa mudou, continuo feio. Nós, que temos a sorte de nascer assim, passamos a vida sem sofrer mudanças, transformações continuamos como nascemos. Esta semana esteve em minha casa uma pessoa que conheci no inicio dos anos oitenta, era bonita, charmosa, disputadíssima, havia fila querendo ficar com ela. Hoje está totalmente diferente, nada existe daquela beleza e charme do passado. Fiquei estarrecido com a transformação. Está pior que eu! Tentei ligá-la aquela beleza do passado, não consegui. Assustadora a mudança. Lembrei de pessoas que me encontram após vários anos sem nos encontrarmos e elas sempre dizem: "tó não te vejo há mais de quinze anos e você não mudou nada." Descobri a vantagem de nascer feio, você não muda com o passar dos anos, apenas continua feio, se tivesse nascido bonito, seria como todo bem nascido (bonito), um cinqüentão brigando com o espelho, feio e frustrado, desesperado correndo atrás da beleza perdida, usando cremes milagrosos e caríssimos, esticando as peles caídas ou tirando os excessos inconvenientes, fazendo terapia. "Estou muito feio." Olhar no espelho é degradante. Obrigado pai, por ter pensado no meu futuro, obrigado pelos cabelos vermelhos, que hoje estão branqueando. As pessoas perguntam se fiz luzes, o preto branqueando na concepção geral e decadente. O ruivo é charmoso, diferente, isto eu sempre fui.
Fico observando pessoas antes belas, hoje normais, mas, para o espelho decadente, assustadas, desesperadas com a cobrança do tempo, a beleza perdida.
Alegria de feio é eterna. Tinha eu meus dezoito ou um pouco mais velho, bonitinho ou feio enfeitado, como diz o popular, estava em uma festa na casa do Jairo Fontoura, pai da Andrea, grandes festas, quando recebi um elogio que levantaria minha auto estima até o ultimo de meus dias. A charmosa e bonita Nizete Trelha, olhando para mim fala: "Em Bonito só tem dois rapazes bonitos, você e o Afrânio." Isto se leva para o túmulo.
Nizete eu sempre vou te amar.