domingo, 19 de setembro de 2010

AINDA RESTAM OS GUAVIRAIS

Ontem eu e o Aldemir fomos catar guavira na fazenda do Dr. Laercio e na do Julinho. Quando la chegamos, voltei algumas décadas no passado, pois encontrei dezenas de pessoas que há muito tempo não via. Gente do nosso passado, pessoas humildes em carrocerias de velhos carros, já proibidos nas rodovias, engarupados em velhas e novas motocicletas, fazendeiros em cabines duplas. Passei uma boa parte do tempo observando-os passeando pelo guaviral.

Vendo-os disputando os pés de guavira, vi como a natureza é sábia, pois naquele momento, não existe hierarquia, status social, rico e pobre, todos são iguais, teem o mesmo direito, o melhor pé a melhor guavira. O primeiro que chegar é o dono. Vendo os meus conhecidos do tempo de criança, fiquei a olhar com tristeza e alegria ao mesmo tempo, todos estavam alegres e felizes no seu ambiente, na sua hora, curtindo uma tradição passada de pais para filhos há décadas, fiquei feliz ouvindo as gargalhadas, os gritos avisando os familiares que tinham encontrado uma boa moita com frutos grandes e doces. Apesar de toda alegria cheguei a uma triste conclusão: aos bonitenses, por enquanto SÓ SOBRARAM OS GUAVIRAIS.

Quando alguém que vem de outras regiões do Brasil, pergunta porque a paixão pela guavira, eu sempre falo: “Quando você conhecer e provar a fruta do paraíso entenderá esta paixão. Ela é tão importante em nossa sociedade, que historicamente, quando ela está com frutos, não tem um dono, ela pertence ao homem por direito da natureza, tanto que nestes dias o proprietário da terra perde seu direito de dono e os guavirais pertencem a todos da comunidade, o homem volta aos tempos primordiais e tudo pertence a todos, cercas e portões passam a não ter significados.”

Nov - 2008

Um comentário:

  1. Lindo texto. Perfeita descrição do que é a catança das guaviras. Uma das razões que me fez ficar em Bonito.

    Abraços,

    Tietta Pivatto
    Bonito - MS

    ResponderExcluir